Dunkirk: Múltiplas tramas, Christopher Nolan e Filmes de Guerra

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Christopher Nolan é daquele tipo de diretor que divide opiniões, muitos amam seu trabalho e muitos outros o odeiam e não cansam de criticá-lo, na minha opinião a carreira dele é até agora estável e seu trabalho é muitas vezes subestimado. Enxergo um diretor com uma visão especial na parte técnica, mas com certo desequilíbrio na parte narrativa, especialmente quando assina o roteiro sozinho sem ajuda do seu irmão e parceiro Jonathan Nolan. Muitas vezes Nolan peca pelos excessos, por exemplo seus últimos filmes, A Origem e Interstellar, geraram enormes discussões seja entre o público ou entre os críticos, duas obras extremamente complexas em suas narrativas; A Origem é um ótimo filme porque Nolan soube desenvolver a sua ideia e fez a sábia escolha de apresentar um final aberto, já Interstellar tem uma boa premissa, mas aqui Nolan exagerou na complexidade da trama e a deixou excessivamente confusa, muitas vezes o diretor faz um esforço excessivo para ser diferente dos seus outros colegas e isso acaba o afastando de boa parte do público.

Seu mais recente trabalho, e um dos favoritos ao Oscar, o filme de guerra Dunkirk reflete bem essa instabilidade e também suas qualidades. Nolan novamente assina direção e o roteiro, desta vez baseado em fatos reais, criou uma história que tenta ser diferente do padrão do gênero ao narrar três histórias ambientadas no mesmo local, mas em linhas temporais diferentes. Nolan apresenta essas histórias em três tipos diferentes de combate de uma guerra; na terra durante o período de uma semana acompanhamos a história de um grupo de soldados tentando salvar suas vidas, a segunda é ambientada no mar durante um dia dentro de um barco que tenta resgatar soldados e por último no ar acompanhamos um piloto em uma difícil missão. Apesar de colocar na tela antes do início de cada narrativa o local e a sua duração é fácil se perder na história durante o seu decorrer, o corte de Nolan feito para dar muita ação e trazer sentimentos de medo, agonia e outros, acaba mais confundido o público e prejudica o total entendimento da trama. Outro fator que prejudica e muito a sua proposta inicial, é que na prática não sentimos esse passar do tempo nas histórias, a única em que o tempo parece correr no período proposto é na trama do piloto.

A história do piloto interpretado por Tom Hardy é a que mais agrada, nela Nolan consegue passar para a telona a questão do tempo como o maior inimigo ao utilizar como trilha o som de um relógio andando. A história do piloto é também a mais emocionante e bonita, com lindas cenas do avião sobrevoando o mar em pleno combate, tendo também um ator de alto nível como Hardy que através de seu tenso olhar passa todo o medo e coragem que o seu personagem está vivendo naquele instante. As outras duas narrativas deixam muito a desejar, a trama do barco indo ao socorro dos soldados é cansativa, sem emoção, cheia de diálogos melosos e um patriotismo exagerado; a do grupo de soldados fugindo pela terra e alguns momentos pelo mar inicialmente tem uma certa ação, mas logo se torna repetitiva.

No último ato Nolan acaba costurando as diferentes histórias e as interligando de uma maneira que ajuda a dar um total entendimento do que aconteceu até aquele momento, mas quando isso acontece já é tarde demais e boa parte do público ficou confuso com a história, o que ficou visível ao ler os inúmeros comentários na internet de pessoas que só foram entender a história somente quando todas as tramas foram interligadas. Um roteiro não precisa mesmo seguir a estrutura básica de começo, meio e fim, um escritor pode misturá-las, cortá-las ou fazer o que quiser, desde que o autor entenda que não está escrevendo para si mesmo, mas sim para o seu público e ele necessariamente precisa entender a história, e básica lição Nolan parece ainda não ter entendido, talvez por uma excessiva confiança. Curiosamente se Interstellar e A Origem exageraram nos termos científicos e em muitos diálogos, Dunkirk em seus pouquíssimo diálogos exagera nas frases clichês dos filmes de guerra, com os velhos temas de honra, superação e patriotismo, aqui temos um péssimo exemplo de diálogos, era preferível cortar ainda mais falas.

A maior qualidade de Christopher Nolan é sua visão como diretor na parte técnica, realmente o diretor tem um olhar especial, capaz de criar belíssimas cenas até mesmo em um cenário triste como de uma guerra. Com sua predileção pelo uso das câmeras IMAX o diretor dá grandeza e detalhamento para cada cena, muitas vezes corta diálogos e prefere closes que retratam muito mais as emoções dos personagens, algo que faz muito bem nas cenas finais. Outra qualidade é sua opção de utilizar muitos efeitos práticos e cenários reais, com pouco uso do CGI, o destaque fica para a ousada opção de usar aviões reais e da época de onde a história se passa para recriar manobras e dar o máximo de realismo.

Tenho esperança que com o tempo Christopher Nolan vai amadurecer ainda mais como diretor, pelo menos já revela ser um diretor eclético, não preso a gêneros, mas sim em contar boas histórias. Em Dunkirk até tentou fazer algo diferente dos outros filmes de guerra, mas entregou mais do mesmo, o que não é um problema já que o longa deve satisfazer os fãs do gênero, e claro a Academia que adora filmes sobre o tema e isso deve lhe render algumas indicações ao Oscar.