Mãe!: Filmes de arte e tramas complexas

screen-shot-2017-08-03-at-5-03-12-pm“Se você for ateu, leia a Bíblia antes de assistir Mãe! ou você vai entender menos ainda o filme”

Logo após terminar de assistir Mãe (Mother) escrevi o tweet acima, já que é quase um consenso que o longa do diretor Darren Aronofsky conta, à sua maneira, a história da Bíblia. Para minha surpresa muitos dos meus seguidores responderam que não tiveram essa mesma interpretação e revelaram diferentes visões sobre a história, alguns citaram o feminismo, outros problemas da nossa sociedade e muitos disseram que não entenderam absolutamente nada do filme, uma resposta igual a que a maioria do público teve.

Concordo com a conclusão comum de que a ideia do diretor Darren Aronofsky era contar a história da Bíblia de forma bastante alegórica e pessoal, a utilizando também para colocar outros temas bem atuais, como a opressão que as mulheres sofrem pelos seus maridos, a questão do bloqueio artístico e o valor de um artista, o ciúme, o sagrado, entre tantos outros temas. Um filme que deixa ao espectador a liberdade de entendê-lo como quiser ou até não entendê-lo, isso é obviamente algo perigoso para um produto que faz parte de uma indústria onde o resultado da bilheteria é vital para o seu sucesso, o próprio diretor afirmou que seu filme era difícil de ser vendido e que não pertencia a nenhum gênero específico. Mãe! é um filme dificílimo de assistir, uma narrativa com inúmeras metáforas e que foge totalmente do padrão de história que estamos acostumados, além de ter cenas fortíssimas, uma delas envolvendo um bebê, o que o distância ainda mais do público.

O longa anterior de Aronofsky, Noah, já deu os primeiros passos para o que viria a ser Mãe!, com a própria interpretação do diretor sobre as histórias narradas na Bíblia, especialmente sua visão sobre Deus, muito mais parecido com o do Velho Testamento do que o do Novo Testamento. É possível ver em Mãe um pouco de toda a obra do diretor até aqui, sua predileção por não querer explicar e sim confundir como fez em seu primeiro longa-metragem Pi, sua maneira de trabalhar os nossos medos internos como aconteceu em Cisne Negro, até sua visão sobre o sagrado e a natureza como em A Fonte da Vida. Outra marca de Aronosfky que se encontra em Mãe é a sua capacidade de conseguir tirar o máximo de seus atores, Jennifer Lawrence praticamente leva o filme nas costas com sua densa e muitas vezes exaustiva atuação que dividiu opiniões, aqui o seu estilo de atuação bastante emotiva se encaixa muito bem.

Não serei hipócrita, sinceramente não gostei de Mãe e tive muita dificuldade em assisti-lo até o fim, pior filme da carreira de um diretor pelo qual tenho um forte apreço. Como escrevi acima Aronosfky juntou um pouco de cada filme seu nesta obra, uma junção que rendeu um resultado alegórico demais, muitas vezes beirando a prepotência artística, uma tentativa exagerada de Darren Aronosfky de tentar fazer algo extremamente autoral. Direito o qual obviamente ele tem de fazer o que quiser e que sim agradou a muitos que consideram o longa uma obra perfeita e o descreveram como “cinema de arte”. Sou totalmente contra o uso deste termo cada vez mais ultrapassado, já que arte é um conceito muito amplo e que muda para cada pessoa, um conceito que acabou virando uma espécie de muleta para diretores e também para os críticos.

Inicialmente muitos consideravam Mãe! como um dos favoritos as principais premiações, especialmente ao Oscar, ideia que logo se perdeu diante da mista recepção ao filme, primeiro entre os críticos, onde alguns o consideraram uma obra-prima e outros o arrasaram, depois o próprio público que o recebeu de forma desconfiada e finalmente o filme acabou ficando de fora da lista de indicados das principais premiações, inclusive no próprio Oscar e o máximo que conseguiu foi algumas indicações ao Framboesa de Ouro, premiação que celebra os piores do ano e isso foi bem merecido. Mãe! faz parte daquele grupo de filmes que sempre dividirá opiniões, ame ou o odeie, o melhor é colocá-lo naquela famosa lista de assuntos que não devem ser  colocados em uma discussão.